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FRANCICVS e o LEÃO

Não sou uma pessoa religiosa. Apesar disso, nunca havia visto um papa tão humano e conectado à realidade como Francisco. O papa João Paulo II talvez tenha alcançado uma popularidade semelhante, mas, ainda assim, não realizou uma transformação tão profunda e secular nas entranhas da Igreja como Francisco, mesmo enfrentando inúmeras limitações institucionais que o impediam de ir além.

Talvez tenha sido o líder religioso que mais se aproximou dos verdadeiros ensinamentos de Cristo, ao escolher como inspiração o mais humilde dos discípulos: Francisco de Assis. Sua escolha refletia não apenas um nome, mas um propósito — o de transmitir sobriedade, simplicidade e afastamento da pompa e do ego. Francisco dizia que só a verdade e a humildade salvam. Em um mundo onde o ego, a superficialidade e a manipulação frequentemente se sobrepõem à autenticidade, o amor fraterno voltou aos holofotes pelas palavras e atitudes coerentes desse líder singular. O papa foi um homem verdadeiramente humilde, que abdicou da opulência e dos símbolos adornados de ouro para viver e pregar o amor na prática.

É impossível não lembrar que, em tempos tão marcados por máscaras e relações baseadas em aparências, só há possibilidade de uma história verdadeira quando as pessoas estão dispostas a viver com verdade e humildade. Sem isso, tudo vira jogo, ego, defesa. Francisco nos ensinou que a transformação começa por dentro — e só acontece quando deixamos de lado o orgulho. Isso vale para o mundo, para a fé… para humanidade.

Um episódio marcante do seu pontificado foi quando uma criança, aos prantos, correu até seus braços para perguntar se o pai — ateu e recém-falecido — iria para o céu. Francisco respondeu que, só pelo fato de ter criado uma criança com uma preocupação tão pura e genuína, certamente Deus lhe reservaria um lugar ao lado d’Ele. A cena foi comovente. O papa não condenou; acolheu. Não julgou; compreendeu. Um gesto que contrasta muito com o mundo atual.

Recentemente, o Vaticano elegeu seu sucessor, o Papa Leão XIV, figura que, a princípio, continuará seguindo o legado de Francisco. Trata-se de um momento histórico:

o primeiro norte-americano — oriundo de um país majoritariamente protestante — a alcançar o posto mais alto da Igreja Católica.

Que Leão XIV tenha sabedoria, humildade e coragem para conduzir a Igreja com a mesma firmeza serena de seu antecessor. Que, assim como Francisco, ele escolha a verdade como caminho e o amor como destino — porque em tempos tão turbulentos, o mundo precisa de lideranças que acolham em vez de condenar, que inspirem em vez de impor.

Descanse em paz o papa argentino mais brasileiro que já existiu. E que Leão XIV honre esse legado com bravura e compaixão, dando continuidade à revolução silenciosa iniciada por Francisco — aquela que transforma não com força, mas com luz.

Leandro Alves de Melo, bacharel em Direito e bacharelando em istração pela Universidade Federal de Uberlândia, advogado, colunista, é proprietário dos escritórios Alves & Melo Advocacia MG e GO, pós-graduado em gestão de pessoas INESP/SP (2018-2020), especialista em Direito Previdenciário pelo IEPREV/BH (2020 a 2022), pós-graduado em Direito Constitucional pelo Instituto de Direito Público de Brasília (2019-2022), vencedor do Top of Mind 2023: advogado previdenciário e vencedor do Top of Mind 2024 e 2025: advogado constitucional.

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