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Raiou o dia, os foliões chegaram à terra prometida. É dia de pré-carnaval na avenida. Estendam o tapete vermelho, decorem com confetes e serpentinas. Perdoem a falta de máscaras para tanta hipocrisia. A a enferrujou, o muro que por tempos ganhou vida, agora se calou. Disseram que encontraram a salvação da lavoura com uma só medida. O sanatório da indignação seletiva pede agem. A desbotada camisa da CBF é a fantasia. Dois dedos de glitter e mais um de purpurina. Façam silêncio na lavanderia. Branco é limpo, preto é sujo. Sofre calado, feito seu ancestral. Do período colonial a ditadura militar. Abre alas que o bloco da família brasileira vai ar.

Há três anos, estufaram o peito em prol de um legado, mas sequer plantaram uma semente. Fizeram da terra prometida uma área devastada. Projetos faraônicos, canteiro de obras. Da rua Virgílio de Melo Franco em Araguari até a Castelo Branco no Rio. Levantaram um monumento em forma de aldeia indígena na Amazônia, outro como as dunas de Natal e mais um lembrando a pureza nativa do Pantanal. Curioso, para não dizer banal. Na capital federal, atingiram a casa dos bilhões pela alcunha de um Estádio Nacional. Elefantes brancos construídos por urubus movidos pelos interesses de sua linhagem cultural. Quem deveria proteger, agora ameaça. Futebol é negócio. Torcedor é fantoche. Federação é dinastia.

Atento nas entrelinhas, saudoso Armando Nogueira alertava que os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão – “Torcedor é chama sagrada. Queima e ilumina o coração do homem”. No último domingo em Curitiba, foram todos impedidos de assistir o clássico. A emissora oferece um valor e os clubes aceitam ou não. Cada um em seu direito por um acordo comercial. Até que a federação se curva, suspende o espetáculo e manda o povo de volta para casa. Enquanto isso, os grandes times do estado também se perdem na incoerência de pedir um preço maior em relação aos pequenos do interior, quando protestam pelo equilíbrio de valores perante os gigantes do cenário nacional.

Maracanã abandonado (*Divulgação)

Destemida, a CBF anuncia um pacote de determinações. Todo investimento dos valentões do Paraná está fadado ao fracasso. Está proibido em todo o país o gramado artificial, como aquele utilizado pela equipe que peitou a entidade no dia anterior. Dane-se o estado da grama, autorizada mundialmente ou não. Está permitido jogar num pasto, em campo esburacado, seco e castigado pelo show dos Rolling Stones. Também não se pode levar um jogo para onde quiser, claro, mas interditaram o estádio. Para onde correr? Semifinal da Taça Guanabara decidida na zona da mata mineira, em Juiz de Fora.

Outra vez o capengante país do futebol é subtraído em tenebrosas transações. Ainda haverá gente para rir de tudo isso do conforto de um sofá. Enquanto isso, o galo vai cantar, o dia raiar e mais um bloco ar. O samba-enredo levará tons de folclore e fantasia. Fevereiro será sempre de alegria para um povo que acostumou com tanta falácia em harmonia. Um partido político defendido como time de futebol. Carnaval para quem tem credencial. Paz no condomínio. Hoje o céu em degradê tinge a folia cinza.