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Ficha Técnica – Janeiro líquido 4h3th

qua, 11 de janeiro de 2017 05:25

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“Ninguém além do Brasil repetiu o milagre de tirar 22 milhões da pobreza”, disse certa feita o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Falecido essa semana, o escritor da modernidade líquida traduzia em poucas palavras a realidade escancarada nas rugas de cada dia. Na cidade de Chapecó, os obstáculos são ainda maiores para alguns garotos que envergam o manto verde e branco. Driblar a fome e o ostracismo é apenas mais um desafio para quem nasceu num país onde até o mérito da morte é seletivo.

Alemão, Japa, Lima, Luquinhas, Tiepo. Nomes diferentes, com habilidades e características distintas, que carregam o peso de um time dizimado pela maior tragédia do futebol mundial. Seus ídolos do elenco principal agora são anjos, e a fonte da inspiração desagua na esperança do povo da Capital do Oeste. O rendimento técnico ainda deixa a desejar, mas o resultado é o de menos quando a missão é apenas aliviar a ferida que hesita em cicatrizar.

Ver aqueles onze atletas entrarem em campo pela Copa São Paulo de Futebol Júnior é como assistir mais um capítulo da história escrito sob nossos olhos. Personagens que caberiam milimetricamente nas páginas de Zygmunt Bauman. O fascínio da inconstância do destino, das relações que escorrem pelo vão dos dedos, do habitat natural das incertezas. Talvez não restasse mais tempo. É tudo líquido demais – “A vida é muito maior que é a soma de seus momentos”.

Neto (à esq.), sobrevivente do acidente da Chape, em conversa com atletas da base do clube

Neto (à esq.), sobrevivente do acidente da Chape, em conversa com atletas da base do clube

 

Somos meras testemunhas diante do fardo monumental dos jovens talentos de Chapecó. De todos eles, incluindo garotos com até 20 anos, mais de 10 devem ser aproveitados no time principal. Meu penar é saber que dos mais de 30 mil jogadores que se tornam profissionais no Brasil, 82% não am de embolsar dois salários mínimos por mês, de acordo com dados da CBF.

Em janeiro, é tempo de despertar. Elaborar planos, trilhar objetivos e pavimentar caminhos para o futuro. Não me venha com placares, de gols, vidas ou mortes. O que está em jogo é a essência de tudo. A humanidade pede agem no país que julga até os direitos humanos, entre a carência de escolas e presídios insuficientes. Que tenhamos a coragem e determinação daqueles garotos, que herdaram de seus ídolos a nobreza de cair para se levantar. Da alegria de sempre seguir em frente, a base vem forte em Chapecó.

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