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Ficha Técnica – RESSACA 6n5e16

qua, 27 de abril de 2016 08:38

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Manhã de segunda-feira. Bom dia. Traz a manteiga, o café e meia dúzia de pães. Avisaram que vem uma frente fria. Lembro da carona que sempre está chegando, mas sequer saiu de casa. Enquanto espero, a ressaca do feriado ainda me avaria. Nos jornais, finais de estaduais, manchetes policiais e o país-sede das Olimpíadas à beira do caos. “O limite da ingenuidade é a burrice” – diz um rapaz. Esquerda? Direita? Todos caminhamos para trás.

O país do futebol esqueceu de ser humano? *Guilherme Leporace (OGlobo)

O país do futebol esqueceu de ser humano?
Guilherme Leporace (OGlobo)

 

A menos de 180 dias para o maior evento esportivo do planeta, uma ciclovia desaba na cidade maravilhosa. Com ela, R$ 45 milhões são engolidos pela água do mar. Uma vida breve de quatro meses, manchada por gente que não preza pela própria espécie – antes, durante e depois. Andar de bicicleta parecia ser um ótimo programa, saudável e sustentável para uma manhã de feriado. Deveria.

Na praia que até então inspirava selfies, moldava horizontes e colecionava carnavais, uma vitrine de corpos. Aos 60 anos, o gari comunitário Ronaldo Severino da Silva, e o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, 54, são meros objetos expostos sob o Sol. A menos de 50 metros dali, um grupo continua a jogar bola como se nada tivesse acontecido. O país do futebol esqueceu de ser humano. Os culpados? Todos que acostumaram aqueles banhistas a testemunhar cenas como essa.

Queria mesmo era falar do gigante Audax de Osasco na Arena Corinthians. Do Vasco imbatível, ou do retorno triunfal de América, Anápolis e Juventude nos estaduais. Da soberania de quase uma década do Santos nas finais de São Paulo. Da equipe da Juventus, há cinco anos no topo da Itália, ou da epopeia do até então modesto Leicester City, virtual campeão inglês. Mas nada me atravessa o peito como aquele retrato.

Um projeto sobre o mar que não prevê a força das ondas é como sobrecarregar uma barragem de rejeitos e não contar com um desastre (leia-se: crime) ambiental. Ou encher o copo de “Danone” e reclamar das consequências do outro dia. Utilizar – em vão – os nomes da ciclovia Tim Maia, da avenida Niemeyer, ou da cidade de Mariana. Aqui, viabilizo meu penar. Num lugar onde tudo se justifica pela crise, até quando uma ressaca vai ser apenas um deslize?

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